sábado, 14 de junho de 2008

Tenho andado distraído, impaciente, indeciso...e ainda estou confuso, só que agora é diferente...Tô tão tranquilo e tão contente...


Apaixonada por retalhos. Ela sempre foi assim, adorava juntar pedacinhos de tecido e formar mil coisas: roupas, toalhas, lenços, faixas para os cabelos, colchas. Especialmente isso, as colchas, amava fazer colchas de retalhos que embalassem os seus sonhos.

Mas ela demorou a aprender que nem todo tecido é apropriado para aconchegar. Jeans nem pensar. Lurex, matelassê, bordado com lantejoulas? Não, nenhum desses. Até o dia em que descobriu a lã.

Encantada, passou a tricotar os quadradinhos coloridos, para depois uni-los um a um. Empolgada, passou a transformar alguns tecidos em longos fios para então tricotá-los. Depois transformá-los. Para, enfim, abraçá-los.

Percebeu que esses anos todos ela não aprendeu a costurar, aprendeu a amar. Unir os momentos em longos fios, formar um emaranhado de histórias, fazer uma colcha com todos os dias de amor.

Assim ela aprendeu a lidar com a saudade: igual à Penélope a espera de Ulisses, costurava os sonhos, os suspiros, as memórias, os devaneios, o futuro. Unindo cada linha e formando cada colcha, abraçava o amado como se ele realmente estivesse presente.

Até perceber que uma colcha de retalhos, por maior que seja o amor com o qual foi feita, continua sendo apenas uma colcha. E nada mais.